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PÂNCREAS

O pâncreas é um órgão relativamente pequeno, que pesa cerca de 100 gramas e mede cerca de 15cm em um adulto. Situa-se, em condições normais, na porção superior do abdômen, abaixo do estômago e é interligado por um canal ao duodeno. É dividido em partes denominadas cabeça, corpo e cauda.

Funções do pâncreas

Este órgão é classificado como uma glândula mista, por possuir um funcionamento exócrino e outro endócrino. A porção do pâncreas que exerce função exócrina é responsável pela síntese do suco pancreático, que contém enzimas que atuam na digestão de carboidratos (amilase pancreático), lipídios (lípase pancreática) e proteínas (proteases: quimiotripsina e carboxipeptidase), ou seja, a parte exócrina produz enzimas que auxiliam na digestão. A porção do pâncreas que desempenha uma função endócrina (=função hormonal) é formada por células que produzem insulina e que produzem o glucagon. Ambos os hormônios são responsáveis pela manutenção de níveis de glicose no sangue.  Por essa razão, o pâncreas é fundamental para o bom funcionamento do organismo.

No entanto, devido a algumas situações, como hábitos de vida pouco saudáveis ou obstrução das vias biliares esse órgão pode sofrer alterações no seu funcionamento, resultando em doenças que podem ter graves consequências para a pessoa caso não seja identificada e tratada.

Doenças do pâncreas

O pâncreas pode desenvolver doenças por inflamação, pode ter cistos ou pode ter tumores. A inflamação do pâncreas é conhecida como pancreatite, classificada em aguda ou crônica. O pâncreas pode ter cistos, que normalmente não causam sintomas, mas que devem ser acompanhados pois alguns tipos podem se tornar tumores. E o pâncreas também pode desenvolver tumores, mais agressivos ou menos conforme o subtipo de tumor (adenocarcinoma, neuroendócrino).

NEOPLASIAS BENIGNAS

Pancreatites

Pancreatite é uma inflamação do pâncreas, causada pela ativação das enzimas pancreáticas dentro da glândula, que acabam digerindo a própria glândula, provocando dor e outros sintomas. Pode acontecer de forma aguda, ou seja, abrupta, sem ter tido episódios prévios, ou pode acontecer de forma crônica, ou seja, uma doença já conhecida que pode de tempos em tempos inflamar (=agudizar). 

As duas causas mais comuns de pancreatite aguda são cálculos da vesícula biliar e o uso abusivo de álcool. Os cálculos biliares provocam pancreatite quando são expelidos da vesícula biliar e empurrados em direção ao intestino. Nesse trajeto, na passada até o intestino, provocam a inflamação do pâncreas, por aumentar a pressão interna do pâncreas durante a passagem. Nesses casos, tem-se a indicação da remoção da vesícula biliar por cirurgia para que não ocorra novo episódio. O álcool pode provocar pancreatite aguda e evoluir para crônica, que de tempos em tempos pode agudizar, ou seja, o pâncreas fica em constante estado de agressão. Nesses casos, a parada de ingestão de bebida alcoólica é mandatória,  e deve ser imediata. A pancreatite crônica pode-se manifestar como dor constante abdominal, eventualmente existe indicação de cirurgia para alívio da dor, mas o mais importante é a parada na ingestão de bebidas alcoólicas.

IPMN (siga em inglês para Neoplasia Papilar Mucinosa Intraductal)

A Neoplasia Papilar Mucinosa Intraductal está se tornando cada vez mais frequente na prática clínica, isso ocorre por causa dos melhores equipamentos de imagem que existem hoje em dia, permitindo a visualização de cistos que antes poderiam não serem vistos. Os IPMNs são muitas vezes encontrados incidentalmente em exames de imagem realizados por outras causas. São raramente considerados malignos no momento do diagnóstico, porém podem evoluir para malignidade. Eles se formam dentro do pâncreas, e, como característica que diferencia de outros cistos, possuem comunicação com os ductos do pâncreas. São subdivididos em dois tipos, de acordo com a comunicação com o ducto pancreático principal ou secundário. Em alguns casos podem afetar ambos os ductos principal e secundário, sendo chamado de misto. Em alguns casos pode se transformar em tumor maligno ao longo de muitos anos. Por esse motivo, um acompanhamento próximo deve ser realizado, pelo menos no início do diagnóstico, para que se tenha clareza quanto a necessidade de retirada do cisto. É importante que os pacientes com IPMN sejam vistos por um especialista na área que possa acompanhar e/ou indicar a retirada do cisto quando necessário.

Cistos

De caráter quase sempre benigno, os cistos no pâncreas se assemelham a bolsas de líquido, que surgem na glândula.  O diagnóstico geralmente é feito por meio de exames de imagem, como a ecografia e a tomografia, que conseguem visualizar os cistos com nitidez. Uma vez encontrados, deve ser avaliado quanto a necessidade ou não de cirurgia para a retirada do cisto. Os cistos benignos somente tem indicação de cirurgia quando tem chances de se tornar maligno ao longo dos anos ou quando se tem dúvida quanto ao diagnóstico. Os cistos de pâncreas mais comuns são os cistos mucinosos, os cistos serosos e os cistos do tipo IPMN (ver próxima seção). Os cistos serosos não tem indicação de remoção cirúrgica por si, somente se estiverem causando algum sintoma por compressão, mas eles não são associados ao risco de transformação maligna. Os cistos mucinosos, dependendo do tamanho, pode correr risco de malignização, ou seja, risco de se tornar um câncer. nesses casos, de cistos mucinosos grandes, existe a indicação de remoção cirúrgica. Importante ser avaliado por um especialista nessa área pois operar o pâncreas eventualmente envolve cirurgia de grande porte. Estas cirurgias apesar de serem de grande porte, tem um risco de mortalidade de menos de 5%, quando realizadas por cirurgiões com grande experiência na área.

NEOPLASIAS MALIGNAS

Tumor Maligno do Pâncreas

 

No Brasil, o câncer de pâncreas representa 2% de todos os tipos de câncer e 4% das mortes por câncer. Os fatores de risco incluem fumo, idade, gênero masculino, pancreatite crônica e exposição a algumas substâncias industriais.O câncer de pâncreas é um tipo de tumor que apresenta altas chances de metástase e que compromete seriamente a vida da pessoa, pois normalmente só é identificada em estágios mais avançados. Esse tipo de câncer é mais frequente em pessoas entre 60 e 70 anos, mas também pode acontecer em pessoas com histórico na família, que já tiveram pancreatite, que consomem constantemente bebidas alcoólicas, fumam e consomem alimentos muito gordurosos.

Principais sintomas: Os sinais e sintomas manifestam-se pela presença na maioria das vezes de icterícia, a coloração amarelada da pele e mucosas. Muitas vezes os pacientes apresentam prurido (coceira) e perda de peso associada à falta de apetite. As fezes podem ficar esbranquiçadas e a urina escura. Os sintomas do câncer de pâncreas geralmente surgem quando a doença já se encontra mais avançada, podendo ser percebida urina escura, fezes esbranquiçadas ou com gordura, pele e olhos amarelados, dor abdominal, falta de apetite, perda de peso, náuseas frequentes e vômitos.

Caso os sintomas presentes não desapareçam em 1 semana, é importante ir ao especialista para que sejam feitos exames que possam concluir o diagnóstico e , em caso de câncer, iniciar o tratamento correto. A confirmação do diagnóstico inicia pela ecografia abdominal, mas tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética são normalmente necessárias. Além disso, marcadores tumorais no sangue como o CA 19-9 e o Antígeno Carcinoembrionário (CEA) podem auxiliar no diagnóstico.

O tratamento para o câncer de pâncreas tem como objetivo a retirada da doença para evitar metástase e melhorar a qualidade de vida da pessoa. A chance de cura está relacionada à possibilidade de diagnóstico e tratamento em estágio inicial. O tratamento estabelecido normalmente é a cirurgia seguida de quimio e/ou radioterapia. Às vezes é necessário realizar a quimioterapia antes da cirurgia. Às vezes apenas quimioterapia. Cada caso deve ser analisado individualmente para se tomar a melhor decisão possível. 

O tipo de cirurgia varia com a localização do tumor. Em relação a anatomia topográfica, a cabeça do pâncreas encontra-se em íntimo contato com o duodeno, enquanto a cauda faz contato com o baço. Quando o tumor se localiza na cabeça do pâncreas, é necessário a remoção do duodeno em conjunto com o pâncreas. Quando localizado na cauda do pâncreas não há necessidade de remoção do intestino, porém o baço geralmente é removido junto para que haja uma adequada margem de segurança da cirurgia. 

Estas cirurgias apesar de serem de grande porte, tem um risco de mortalidade de menos de 5%, quando realizadas por cirurgiões com grande experiência na área. Após a cirurgia decide-se pela necessidade de Quimioterapia e/ou Radioterapia de acordo com o tipo, localização do tumor e envolvimento de gânglios.

Adenocarcinoma de Pâncreas

Os tumores de pâncreas mais comuns são do tipo adenocarcinoma (que se origina no tecido glandular), correspondendo a 90% dos casos diagnosticados. O tumor neuroendócrino pancreático é um tipo raro de câncer, responsável por 5% dos casos da doença. Ele se desenvolve a partir de células endócrinas do pâncreas. A agressividade do tumor neuroendócrino depende do subtipo, tamanho e grau de diferenciação.

Tumor neuroendócrino de pâncreas

O tumor neuroendócrino pancreático é um tipo raro de câncer, responsável por 5% dos casos da doença. Ele se desenvolve a partir de células endócrinas do pâncreas. Existem dois tipos principais: os tumores funcionais, que produzem uma quantidade em excesso de hormônio, e os tumores não funcionais, que são mais raros e não produzem hormônios.

Os sinais e sintomas dependem do subtipo de tumor neuroendócrino. 

O tratamento do tumor neuroendócrino pancreático depende de alguns fatores, como o local em que ele está localizado, tamanho do tumor, presença de sintomas e o estado de saúde geral do paciente, mas existem as seguintes opções:

Apenas acompanhamento: se for um tumor pequeno, e sabidamente de baixo risco, pode ser apenas acompanhado com exames de imagem. 

Cirurgias – se o câncer puder ser totalmente removido, a cirurgia é a opção que pode ser escolhida. Existem diferentes tipos de procedimentos cirúrgicos: a enucleação, ou seja, a retirada apenas do nódulo, é realizada quando o tumor está em estágio inicial e pode ser totalmente retirado sem prejudicar o resto do pâncreas. Outra opção é a retirada de parte do pâncreas, nesse caso pode ser retirada a cabeça, o centro ou a cauda do pâncreas, dependendo da localização do tumor. Eventualmente há indicação de pancreatectomia total, ou seja, a retirada de todo o pancreas, esse procedimento é escolhido apenas em raras ocasiões pois a vida sem o pâncreas requer o uso crônico de medicamentos. Existe também a possibilidade de tratamento cirúrgico em casos que apresentem metástases, porém quando também são passíveis de remoção cirúrgica.

Terapia alvo – utiliza medicamentos que atuam diretamente nas células cancerígenas. Em geral é feita quando o tumor neuroendócrino pancreático já está em estágio avançado.

Quimioterapia – dependendo do caso, as substâncias usadas no tratamento podem ser injetadas no paciente ou tomadas por via oral.  A escolha depende do grau de diferenciação (tipo de células) do tumor.

Radioterapia – é possível usar diferentes tipos de radiação para destruir células cancerígenas. Em geral utilizada quando o tumor neuroendócrino pancreático se espalhou para outros órgãos.




Referências

  • https://antigo.saude.gov.br/saude-de-a-z/doacao-de-orgaos/pancreas
  • International consensus guidelines 2012 for the management of IPMN and MCN of the pancreas. Pancreatology 12 (2012) 183e197
  • Diagnosis and management of pancreatic cystic neoplasms: current evidence and guidelines. https://doi.org/10.1038/ s41575-019-0195-x
  • International consensus on definition and criteria of borderline resectable pancreatic ductal adenocarcinoma 2017. Pancreatology 18 (2018) 2e11
  • NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology (NCCN Guidelines®) Pancreatic Adenocarcinoma – Version 2.2021 — February 25, 2021
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